terça-feira, 27 de dezembro de 2011

PRIMORDIUM - "Tal interação é uma espécie de mutualismo que só a “CENA UNDERGROUND” ganhará no final das contas".


Em meados do ano 2000 numa visita a uma das lojas especializadas aqui de Natal / RN, me deparei com uma figura de voz forte e um considerável conhecimento de Metal,  batemos um breve papo, e descobri que ele estava formando uma banda, administrava um zine impresso, então trocamos número de telefone e cada um seguiu seu rumo com a expectativa de uma outra conversa. 
Eu saí dali com o errôneo sentimento sobre o mesmo: O cara tem uma banda, mora do outro lado da cidade e é amigo dos bangers antigões daqui e de outros estados, acho que esse bicho jamais volta a falar comigo - Apesar de já está na cena a um bom tempo, até ali, era esse o pensamento que eu tinha, pois eu desconfiava de certo “preconceito” que rolava com a Zona Norte dessa cidade em meio aos bangers. Alguns dias depois o cara me liga e marcamos de tomar umas gelas num barzinho, e nesse dia ele decretou: A próxima birita é na ZN, marcado a vinda dele até a Zona Norte e ali nasceu uma amizade dentro do Metal, assisti alguns ensaios da banda, virei fã e até hoje somos grandes amigos.
Fiz uma entrevista com Gerson na rádio em 2003, e agora volto a entrevistá-lo aqui no blog, numa matéria muito boa onde se esclarece grande parte da trajetória da Primordium, e como eu conheço boa parte dessa caminhada, confesso que cheguei a arrepiar com algumas das respostas do Gerson, Confiram esse bate papo que encerra nossas atividades em 2011, e espero que vocês gostem dessa entrevista com esse banger que tambem é um dos colaboradores  do underground potiguar.
 
Dapesada: A banda Primordium foi fundada no ano de 2000, com uma proposta que se mantem até os dias de hoje. Como surgiu a ideia de formar a banda?
Gerson: Acho que 90% das bandas que surgiram na cena metálica foram idealizadas em algum encontro de amigos tomando uma boa cerveja, e nós não poderíamos fugir da regra (risos). Como qualquer outro headbanger sempre tive desejo de ter uma banda, então depois de uma noite de muitas cervejas em minha casa reunido com alguns amigos surgiu a idéia de montar uma banda de death/doom. Graças ao amigo Benedito consegui o telefone do Sérgio (Deluge Master) e de Márcio (baterista), ambos tinham acabado de sair do Nightbreath (99). Juntado-se a nós três veio o Alex Belial (Shedim e Lord Blasphemate) e o Sidney (My Fallen Garden). Então com essa formação ensaiamos bastante montando o embrião do Primordium que foi o Epitaphium.

Dapesada: Ainda na época dos ensaios o Primordium tinha teclado em suas músicas, porque esse instrumento não continuou a fazer parte das composições?
Gerson: Nos primeiros ensaios devido a proposta sonora que queríamos executar era necessário a utilização de um teclado, entretanto, observamos que o direcionamento musical não estava mais seguindo para o Death/Doom, e sim para o Death/Black mais cru e direto, foi o que ocorreu  na época em que gravamos o demo-ensaio The Grand Elevation Of Pagan Temple em 2001. Se você observar é um material muito agressivo, com a linha de vocal vociferada e tendendo para o Death/Black.


Dapesada: A temática das musicas é egípcia, qual o motivo para escolha da história desse país para as letras da banda?
Gerson: A temática surgiu de forma bem espontânea. Certo dia cheguei para o Fernando Lima, nosso antigo guitarrista, e perguntei: Que tal nas letras do Primordium explorarmos algo ligado a uma civilização antiga? Na hora ele apoiou a idéia. Sempre gostei de estudar mitologia de povos antigos do oriente (Egípcios, Fenícios e Mesopotâmicos), até hoje leio muito sobre temas culturais e exotéricos. A escolha pelo Egito foi bem prática, todos os mistérios da humanidade passam por lá, basta você procurar relacionar vários acontecimentos históricos com a história dos egípcios, sempre haverá uma relação direta. 

Dapesada: A banda lançou a demo ensaio “The Grand Elevation Of Pagan Temple” em 2001, praticamente no primeiro ano do grupo, o objetivo desse registro era trazer uma resposta para consolidação do Primordium na cena underground?
Gerson: Exatamente. The Grand Elevation Of Pagan Temple foi um registro que abriu as portas do underground local e regional para o Primordium. O material teve uma aceitação tão boa que hoje em dia nem a minha fita k7 com capinha tenho mais (risos). Peço a quem tiver que entre em contato comigo, queremos fazer uma nova roupagem para a faixa título. Através do lançamento do demo-ensaio fizemos nossos primeiros shows em João Pessoa, Campina Grande, além de tocar no V Maceió Metal Fest com o maior público que a banda já se deparou, cerca de 2000 headbangers insanos. Boas recordações. Sem quem além de nós o RN foi representado pelo Shedim e Nightbreath.

Dapesada: O Primordium teve inúmeras mudanças na sua formação, você acha que isso é um problema comum entre as bandas do RN, e que pode atrapalhar uma banda em dar seguimento a um trabalho sério?
Gerson: Desconheço até hoje uma banda que nunca tenha mudado de formação durante a sua trajetória (risos).  As mudanças em muitos momentos são positivas, pois ajudam a dar um novo gás no trabalho executado pela banda. Porém não vou negar que faça a banda regredir um pouco no ritmo que até então vem sendo empregado. Muitos motivos proporcionam a entrada e saída de um músico em uma banda. No Primordium, as mudanças nunca foram empreendidas por inimizade ou critério técnico, e sim pela necessidade de membros antigos se dedicarem a outras prioridades em sua vida particular. Todos nós buscamos melhorias no campo profissional (Fazer um Curso Técnico, Superior, Concursos Público entre outras coisas). Sabemos muito bem que “nunca” sobreviveremos do dinheiro do Metal, e até acho importante à conscientização dos membros da banda neste aspecto, pois nunca estaremos expostos aos modismos e a novas tendências empreendidas pelo mercado, continuaremos com a nossa proposta musical intacta, e não teremos frustrações.

Dapesada: No inicio de sua história, o Primordium tocou em lugares minúsculos como “vice versa” (Natal / RN), chegando a tocar após uns anos em um evento de médio porte em Alagoas, levando em consideração que o grupo praticamente só toca musicas próprias. Você acredita que esse fato é primordial para o crescimento de uma banda?
Gerson: Pense como tenho saudades dos shows antológicos no vice-versa.  Uma banda quando começa a tocar ao vivo nem sempre tem um repertório considerável de musicas própria, tem que atrair o público mesclando alguns covers com composições autorais. Após você conquistar alguns amigos que curtam o estilo e a proposta da banda, então chegou a hora de começar a mudar o set list colocando mais composições autorais e o mínimo de covers possível. O show em Maceió foi algo que não vi até hoje igual em si tratando de um festival totalmente dedicado ao Metal Underground em que tocamos. A cidade tinha vários outdoors do evento, matéria de página inteira nos principais jornais impressos da cidade, além da cobertura ao vivo da Rede Globo local e a MTV.

Dapesada: O Primordium hoje está entre as bandas mais antigas de Natal em atividade, qual a fórmula pra uma banda se manter bem em uma cena underground por mais de 10 anos?
Gerson: Ser honesto com sua ideologia e respeitar de forma total quem sempre esteve ao nosso lado nos mais diversos momentos enfrentados. Costumo a dizer a galera (amigos) que apoia e incentiva o nosso trabalho que a força que nos é dada é o principal combustível para estarmos vivos e ativos durante tanto tempo. Fora que dentro de uma banda deve-se manter o espírito “família” e de muita amizade, não apenas dentro do estúdio, mas fora dele. A relação existente entre os músicos é como um casamento que sempre está sendo testado por situações do cotidiano.

Dapesada: Aqui em Natal, já existe há um bom tempo vários selos, porém, praticamente todos eles underground lançando apenas demos de bandas da cidade, o surgimento de selos com objetivo mais profissional ajuda a enriquecer a cena e junto a isso aumenta a oportunidade para bandas dessa mesma?
Gerson: Acredito que um selo se estrutura principalmente na existência de um púbico atuante e participativo na aquisição (compra) de material (demos, ep´s e cd´s).  Tal interação é uma espécie de mutualismo que só a “CENA UNDERGROUND” ganhará no final das contas. Atualmente em Natal o nível das bandas evoluiu consideravelmente graças as condições técnicas (estúdios de ensaio, músicos mais capacitados, aquisição de instrumentos de ponta, casas de shows, produtores e técnicos) fazendo com que os produtores locais pensem em lançar bandas de sua própria cidade. Honestamente não acho isso uma espécie de bairrismo, mas uma forma de valorização das bandas que vem trabalhando de forma séria e comprometida.


Dapesada: Em meados de 2007, o Primordium iniciou a pré-produção de “Todtenbuch”, parando por um longo tempo com os shows para se dedicar plenamente ao Debut CD, já se passaram praticamente quatro anos e o registro ainda continua em produção.  O que aconteceu para que se passasse tanto tempo na produção de um disco?
Gerson: Até hoje muitas pessoas perguntam o real motivo de termos parado em plena produção do álbum, espero acabar com tal dúvida respondendo a sua pergunta. Em meados de 2008 sofremos a primeira baixa com a saída de Fernando Lima (Guitarra) que precisou sair para dar seqüência a sua carreira militar, fazendo com que não existisse mais espaço para a conciliação com a banda. Em 2009, foi a vez de Arthur Vianna (Baixo/Bateria) ter que sair da banda para se dedicar ao Mestrado em Filosofia em João Pessoa. Ambos saíram por uma necessidade profissional e prioritária para suas vidas, totalmente compreensivo e inquestionável. No mesmo ano (2009) fiquei afastado da banda por mais de um ano devido a ter passado em um Concurso Público na área militar. Só no final do ano de 2010 através de um encontro casual com Augusto César (nosso atual baterista e amigo de longas datas) e Thiago Varela (guitarra) resolvemos ativar a banda. Conversamos e Augusto sugeriu um amigo dele guitarrista (Denilton Falcão) recém saído do Buggs para a outra guitarra no Primordium. Após alguns ensaios e shows em 2011 achamos que era o momento de dar continuidade as gravações do debut-cd já que temos uma formação fixa. No momento contamos hoje comigo nos vocais; Denilton e Thiago nas guitarras; Augusto César na bateria e o mais novo membro que é o Kleyber Jr. no baixo. 

Dapesada: “Todtenbuch” é titulo provisório, qual seria o outro possível titulo e a temática do disco?
Gerson: Manteremos o título do debut como Todtenbuch. Muitos devem se perguntar o significado. O termo foi escolhido para que aqueles que curtem a nossa música e a mitologia egípcia possam se debruçar um pouco mais dentro do contexto lírico do álbum. Todtenbuch é uma denominação dada ao Livro dos Mortos egípcio pelo arqueólogo alemão Richard Lepsius em 1840 após a tradução de um ptolomaico, o papiro de Iufankh. Retrataremos algumas passagens desta obra em nove novas composições, sendo que outras três musicas (Curse Of Imhotep Part I fará alusão ao filme clássico “A Múmia”, Mummified retratará o processo de mumficação  e Osíris Tribunal é uma regravação da demo The Sacred Valley Of The Kings) virão com outra contextualização. Só posso adiantar que será um trabalho muito mais agressivo e técnico se comparado a demo-tape de 2002.

Dapesada: O espaço está aberto para você dar o seu recado aos que curtem o Primordium.
Gerson: Só tenho agradecer o espaço aqui aberto para que pudesse falar um pouco da história do Primordium. Acredito que veículos como o Dapesada só faz enriquecer e dinamizar o trabalho feito dentro do “underground”. Lembro-me bastante do antigo programa de rádio que tinha o mesmo nome do blog e era apresentado por você. Várias bandas como o Primordium, Sanctifier, Shedim, Nightbreath e Expose Your Hate foram divulgadas e tiveram suas músicas difundidas para o público da Zona Norte da cidade através do programa. Despeço-me mandando um forte abraço aos irmãos (ãs) que sempre estiveram presentes conosco durante dez anos de luta no underground, e saibam que a força dada por vocês sempre será o elemento propulsor de nossa música. E vamos para mais dez, vinte e trinta anos unidos neste sentimento chamado “Death Metal”. Muito obrigado!!! Aguardem “Todtenbuch” em 2012.

Entrevista por: Adiel Soares

Um comentário:

  1. EXCEPCIONAL A ENTREVISTA, BOA SORTE AOS BROTHERS DO PRIMORDIUM E UM ABRAÇÃO ESPECIAL AO NOBRE IRMÃO GERSON POR PERSEVERAR A LUTA PELO UNDERGROUD.

    Tales.

    ResponderExcluir

Deixe o seu comentário.